quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Também sou estuprador

Tião Lucena


Também sou estuprador

Ando amedrontado com a possibilidade de ser preso como estuprador. É que tenho o hábito de beijar minha esposa quando saio para o trabalho, e isso, segundo a nova teoria policialesca da Paraíba, é estupro. Acho que vou fazer assim, quando me preparar para deixar a casa em demanda do trabalho:

-Dona Cacilda, posso lhe estuprar?

Se ela deixar, eu estupro, mas se fizer beicinho, vou mimbora com água na boca, só com a vontade e nada mais.

A continuar nessa pisada, mais dia menos dia o sujeito será considerado estuprador apenas pelo olhar. Basta botar uns olhos compridos para a distinta dama que passa para a Polícia meter as algemas no tarado e envia-lo direto ao Serrotão, desaguadouro da nova safra de estupradores paraibanos.

Não é exagero, meu considerado. Marcelinho Paraíba foi preso e levado ao Serrotão como estuprador porque beijou uma moça na boca. Beijo dado, diga-se, durante farra etílica na granja dele em Campina Grande.

À Polícia, a suposta vítima disse que não conhecia o suposto agressor. E eu fiquei matutando: Se não conhecia, o que diabos ela foi fazer na granja do desconhecido num meio de semana, altas horas da noite?

Coisa estranha, suspeitíssima.

Eu não freqüento lugar que não conheço. Tampouco me relaciono com desconhecidos. O bom senso manda que seja assim. Aos desconhecidos, no máximo dos máximos devemos oferecer um cumprimento fugaz, um bom dia ou uma boa noite.

E a moça, coitada, inexperiente demais, apenas 31 aninhos, formada em advocacia, portanto uma pessoa recém desmamada que não sabe nada de pecado ou pecador. De repente, aparece diante da Polícia, levada pelas mãos de um irmão delegado, para acusar uma pessoa pública e famosa de estupro. O leitor já deve estar sentindo por aí o cheiro da armação, o palco montado para ganhar manchetes, e, quem sabe, tirar alguma vantagem.

Será que esse circo teria funcionado se o beijoqueiro fosse o cobrador de ônibus da linha das Malvinas? Taí uma pergunta que eu gostaria de ver respondida pela ofendida dama.

A presepada foi maior ainda quando apareceu o enfurecido irmão agredindo jornalistas e exibindo armas na Central de Polícia. A mesma polícia que prestimosamente enviou ao Serrotão o perigoso tarado, sequer deu voz de prisão ao delegado valentão. Ficou tudo por isso mesmo, os jornalistas desmoralizados, apanhados e amedrontados.

Ainda bem que surgiu um juiz de respeito no meio dessa história, chamou o feito à ordem e mandou acabar com a palhaçada, determinando a soltura do jogador.

Pelo menos isso.

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