sábado, 7 de julho de 2012

Morre Ronaldo Cunha Lima, um dos mais carismáticos políticos paraibanos



Ronaldo Cunha Lima abraça José Maranhão na covenção do PMDB em 2001 (Foto: Arquivo/Jornal da Paraíba)
 Faleceu na manhã deste sábado, 7 de julho, às 9h40, em seu apartamento em João Pessoa, o ex-govenador da Paraíba, Ronaldo Cunha Lima.
Ele tinha 76 anos e lutava contra um câncer no pulmão esquerdo, diagnosticado em julho do ano passado. Os filhos, a esposa e os netos estavam ao lado do ex-governador no momento de sua morte, no quarto onde estava montada uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) há alguns meses.
O anúncio da morte do poeta foi feito pelo seu filho, senador Cássio Cunha Lima, em seu microblog twitter, onde disse que os poetas não morrem e que após uma vida digna, Ronaldo descansou. 
Ronaldo Cunha Lima foi um dos políticos mais carismáticos e populares que o Estado já teve. Seu filho, o senador Cássio Cunha Lima (PSDB), é apontado como seu principal herdeiro político, carregando de formamais visível essas duas características.



Ronaldo Cunha Lima no Senado, em 1994
(Foto: Arquivo/Jornal da Paraíba)
Em quase 50 anos de carreira política, Ronaldo Cunha Lima assumiu quase todos os cargos eletivos, exceto o de presidente da república. Campina Grande foi o palco de sua história política, onde ele realizou suas maiores obras, deixando como marca a construção do Parque do Povo, espaço que se tornou palco da festa que hoje é conhecida como o 'Maior São João do Mundo'. O ex-governador da Paraíba morreu neste sábado (7) vítima de um câncer no pulmão.
Ronaldo José da Cunha Lima nasceu na cidade de Guarabira, Brejo paraibano, em 18 de março de 1936. Formado em Ciências Jurídicas, ele era casado com Maria da Glória Rodrigues da Cunha Lima e tinha quatro filhos: Ronaldo Cunha Lima Filho, Cássio Cunha Lima, Glauce Cunha Lima e Savigny Cunha Lima.
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A doença do ex-governador foi diagnosticada em julho de 2011. Durante cinco meses Ronaldo foi internado várias vezes para se tratar do câncer em São Paulo e em João Pessoa. A última internação foi em janeiro deste ano e, desde então, ele passava por acompanhamento médico na casa da família na capital paraibana.
A história política de Ronaldo teve como cenário principal a cidade de Campina Grande onde em 1959, aos 23 anos, foi eleito para o cargo de vereador pelo PTB. Em 1963 ele foi eleito para o cargo de deputado estadual e quatro anos depois foi reeleito.
Em 1969, no meio do segundo mandato de deputado, ele abriu mão do cargo e se candidatou e foi eleito prefeito de Campina Grande pelo MDB. Pouco tempo depois de assumir teve o mandato cassado pela ditadura militar.
Ronaldo Cunha Lima no Senado, em 1994 (Foto: Arquivo/Jornal da Paraíba)Após passar dez anos fora da Paraíba, Cunha Lima retornou à Campina Grande e retomou a vida política. No ano de 1982 ele foi novamente eleito prefeito da cidade, já pelo PMDB, e assumiu o cargo em 1983. Sua gestão ficou marcada pela construção do Parque do Povo. Ao deixar a prefeitura ele foi sucedido pelo seu filho Cássio Cunha Lima, que hoje ocupa o cargo de senador e é seu principal herdeiro na política.
Em 1990, nas primeiras eleições gerais depois da redemocratização, Ronaldo Cunha Lima foi eleito governador da Paraíba. Quando exercia o mandato ele se envolveu no episódio mais polêmico de sua vida ao atirar contra o seu antecessor Tarcísio Burity em um restaurante em João Pessoa.
O atentado contra Burity foi em 1993 e ficou conhecido como 'Caso Gulliver', nome do restaurante onde aconteceu o crime. O ex-governador chegou a ser preso, mas três dias depois conseguiu a liberdade provisória. A tentativa de homicídio foi supostamente motivada por críticas que a vítima teria feito a Cássio Cunha Lima, que era superintendente da Sudene. Burity sobreviveu e morreu dez anos depois vítima de complicações cardíacas. Esse caso fez com que Ronaldo renunciasse, em 2007, ao segundo mandato de deputado federal.
Ronaldo Cunha Lima deixou o governo estadual em 1994 pra concorrer à eleição para o Senado Federal sendo substituído por Cícero Lucena. Naquele ano o PMDB saiu como grande vitorioso nas urnas elegendo Antônio Mariz para como governador e Ronaldo e Humberto Lucena como senadores.
Em 1999, quando ainda exercia o mandato de senador, Cunha Lima sofreu um acidente vascular cerebral que o deixou com a saúde debilitada. Isso, no entanto, não fez com que ele deixasse a vida pública e em 2002 foi eleito deputado federal. No ano de 2006 ele foi reeleito, mas em 2007 renunciou ao cargo para escapar do julgamento do 'Caso Gulliver' pelo Supremo Tribunal Federal.
Ronaldo abraça José Maranhão na covenção do
PMDB em 2001 (Foto: Arquivo/Jornal da Paraíba)
Racha com o PMDB foi polêmico
Em 1998 Ronaldo tentou ser candidato ao governo mais uma vez. Ele disputou a convenção do PMDB com José Maranhão, que havia assumido após a morte de Antônio Mariz, e acabou sendo derrotado. O processo gerou um racha no partido e três anos mais tarde o ex-governador e seu grupo migraram para o PSDB.
Na época, Ronaldo tentou ser candidato ao governo, mas acabou perdendo para Maranhão na convenção do partido. Até hoje, políticos afirmam que a votação teria sido “trapaceada” para beneficiar Maranhão. Essa tese, no entanto, nunca foi comprovada.
'Caso Gulliver' e a renúncia
A tentativa de assassinar seu adversário político, Tarcísio Burity, em 13 de setembro de 1993 foi uma mancha na trajetória política do ex-governador da Paraíba Ronaldo Cunha Lima. Na ocasião, Ronaldo atirou três vezes contra o também ex-governador, e seu antecessor, Tarcísio de Miranda Burity dentro de um restaurante em João Pessoa. O episódio ficou conhecido como 'Caso Gulliver', nome do local onde ocorreu a tentativa de homicídio.
O ataque de Ronaldo Cunha Lima foi supostamente motivado por críticas que Burity fez ao seu filho, o também ex-governador e hoje senador Cássio Cunha Lima (PSDB), que na época era superintendente da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Burity ficou alguns dias internado, mas conseguiu sobreviver. Em 2003, morreu vítima de problemas cardíacos.
Ronaldo chegou a ser preso, mas três dias depois conseguiu a liberdade provisória. Ainda em 1993, a Justiça concedeu o relaxamento da prisão do então governador. Com a eleição de Ronaldo para o Senado Federal, a ação penal contra ele mudou de instância. Em agosto de 2002, o Supremo Tribunal Federal recebeu por unanimidade a denúncia oferecida pelo Ministério Público.
Em 2007, às vésperas da ação penal de tentativa de homicídio ser julgada pelo STF, Ronaldo Cunha Lima renunciou ao segundo mandato de deputado federal. Ele justificou que estava deixando o cargo para perder o foro privilegiado e responder ao crime como cidadão comum. "Quero, com esse gesto extremo, despir-me de quaisquer prerrogativas para assumir, apenas como cidadão, episódios particularmente dolorosos de um passado já remoto no tempo, mas ainda muito presente em minha vida e minha consciência, por seus desdobramentos de sofrimento e de dor", disse Ronaldo na carta em que renunciou (Leia carta na íntegra)
Com a renúncia, Ronaldo fez o processo voltar para a Justiça da Paraíba e ser retomado do zero. Na época o ministro do STF, Joaquim Barbosa, então relator da ação contra o ex-governador, classificou o ato como um “escárnio” e questionou o foro privilegiado. “O gesto dele mostra como é perverso o foro privilegiado. Este homem manobrou e usou de chicanas por 14 anos para fugir do julgamento", disse Barbosa.
Pouco antes de Ronaldo morrer, o processo do ex-governador ainda estava correndo na Justiça. A última decisão sobre o caso saiu no dia 27 de junho, quando o Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou um recurso da defesa de Ronaldo Cunha Lima que pedia a prescrição do crime.
A viúva de Burity, a professora Glauce Burity também criticou a renúncia de Ronaldo Cunha Lima pra não ser julgado pelo STF. “Foi com muita indignação que nós todos, eu e meus filhos, soubemos da renúncia. Chegamos à conclusão que foi uma atitude covarde. Ele praticou o ato e deveria assumir", afirmou ela na época.

Imagens de Ronaldo

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